Lembranças de antonio Madeira

Sentado na varanda de minha casa

Lembrei de um velho amigo que não está no meio de nós

Está morando no céu junto com Nosso Senhor

Não está ouvindo a mentira dos políticos e nem a humilhação do trabalhador

Sua caneta era a enxada, sua profissão lavrador

Aqui nessa terra ele muito lutou

Quando nasceu seu primeiro filho, ele pensou

Se for um menino inteligente poderá ser um doutor.

Seu sonho foi realizado, esse seu filho formou-se para advogado.

 

Estou falando do meu amigo e compadre Antônio Madeira

Conheci toda a sua trajetória

Era um homem que não tinha inimigo, que viajava fora de hora

Que não tinha medo

No princípio do seu casamento morou na Fazenda Ubazeiro

Mas com o conselho dos amigos,

Mudou pra Barão, pro Bairro do Distrito

Um dia, ele me convidou pra dar uma saída na parte da tarde

Que ele chegava mais cedo do serviço

Mas quando eu cheguei em sua casa

Foi uma tarde que ficou marcada

Ele chegou do serviço com as pernas cortadas de Malícia

E as suas mãos calejadas

Mas me recebeu sorrindo e começou a contar uma piada

Mas foi interrompido porque tinha umas mulheres gritando socorro

Lá na beira da estrada

Nós chegamos para socorrer, era uma briga do Mané Rosa com o Chico Gaia

Seu Manoel chegou com três garruchas e o Chico com a espingarda

E as armas já estavam apontadas

Seu Antônio deu uma de juiz de paz

Começou a aconselhar pedindo para abaixar as armas

Que eles eram chefes de família e tinham que acalmar

Seu Antônio foi aconselhando até a poeira abaixar

Eles deram as armas para o Seu Antônio levar pra casa e guardar

Quando nós fomos examinar as armas, demos uma gargalhada

A espingarda do Chico não tinha cartucho

E as garruchas do Seu Manoel não tinham bala

 

Seu Antônio gostava de uma barganha e era bom na matemática

Na sua cabeça parecia que tinha uma calculadora

Foi ele que me ensinou a fazer conta de arroba

A sua honestidade dentro da nossa pequena cidade fazia divisa

Tinha crédito dos amigos e gostava muito de minha família

Ele um dia me convidou pra ser padrinho de batismo de sua filha

Eu ainda era adolescente e fui padrinho da Marlene

Mas a nossa amizade não parou por aí

Um dia ele me deu notícia que a comadre Geni estava grávida

Se for um menino ia ser meu xará

Eu senti muito orgulho porque nasceu um lindo menino e o seu nome é Getúlio

 

Todo princípio tem fim

Aonde o senhor estiver, meu compadre

Quero que esteja com muita paz

Quem escreveu essa letra

Foi o seu amigo Getúlio Monteiro Novais